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Em seguida, no turno matutino nesse mesmo dia, participou da roda de conversa tematizada “A resistência da juventude negra e as políticas afirmativas para o enfrentamento do racismo”, o professor e ativista negro Moisés da Cruz Sant’Ana e a graduanda em saúde Giovana Bernardes também contribui com o debate abordando o privilégio do corpo branco na sociedade brasileira.

 

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1 Professor de Língua Portuguesa e Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Espanhol), graduado em Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias pela Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB. Atualmente é Discente do Programa de Pós Graduação em Educação e Interculturalidade pelo Instituto Federal da Bahia - IFBA

2 Graduanda do Bacharelado em Saúde da UFSB.

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   Moisés da Cruz Sant’Ana iniciou a roda de conversa fazendo apresentação dos dados estatísticos sobre a população jovem negra contido no Atlas da Violência 2018 e referenciou à violência e homicídio em 2016, sendo 71% das vítimas de homicídios eram negros/as de 15 a 29 anos e com baixa escolaridade. Quanto à população carcerária, destacou que o Brasil era o 3º país com o maior contingente, 726.712 presas/os. Desse número, 64% são negras/os, e 55% têm entre 18 a 29 anos, sendo assim, pode-se perceber que são as/os jovens negras/os que lotam os presídios do país. Esses dados são indicativos do levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, publicado em 2017 pelo Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN. Dando continuidade a exposição de dados estatísticos, informou que 63,7% das/os desempregadas/os no terceiro semestre de 2017 eram negras/os, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada no dia 17 de novembro de 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

   A partir da análise dos dados estatísticos apresentados, percebe-se que o lugar da/o negra/o da sociedade brasileira é na marginalidade, nos bairros periféricos, suscetível à violência policial e ao recrutamento de jovens para a criminalidade por falta de oportunidade. Desse modo, as políticas afirmativas podem ajudar essas/esses jovens negras/os a resistir a estas opressões. Mas vale também destacar que as políticas afirmativas não são apenas cotas raciais, sociais ou de gênero, mas também educação pública, transporte escolar, merenda escolar e livro de didático.

   O professor ainda destacou alguns pontos do seu contexto histórico e social, tais como: racismo constantemente no seu dia-a-dia; estudante de escola pública; família pobre, negra, composta por pai, mãe e 12 irmãos; vivência em situação de vulnerabilidade social; e a sua higiene, que sempre foi suspeita, por muitas vezes associada à sua raça. Diante desse contexto, considera que as políticas afirmativas foram importantes para ele construir a sua carreira acadêmica e profissional.

   Atualmente, Moisés atua nos Movimentos Sociais e na Educação, espaços em que encontrou oportunidade para fazer a militância dentro do Movimento Negro, que se desenvolve em uma relação de corpo a corpo, disposto a ouvir críticas e aplausos das/os adolescentes. O ativista negro ressaltou que luta para que as/os estudantes negras/os tenham uma consciência racial, para saberem quais são as políticas reservadas e como elas/eles podem resistir às diversas violências que atravessam seus corpos negros nas periferias, pois a oportunidade passa pelo autoconhecimento de ser negra/o e a luta pelos seus direitos.

   O discurso sobre a resistência da juventude negra e as políticas afirmativas para o enfrentamento do racismo surge como uma abordagem metodológica em rodas de conversas para educação formal e não formal, em sua maioria, jovens e negras/os em situação de vulnerabilidade social. Moisés explica sobre as políticas afirmativas, relações raciais e étnicas na sociedade, de modo a fazer essas/esses jovens relatarem os seus problemas nesse espaço, e ocupar centros universitários.

   Ainda na roda de conversas, Giovana Bernardes iniciou apresentando uma abordagem em vídeo destacando os diversos privilégios e solicitou que cada aluna/o levantasse a mão se fosse contemplada/o por alguns privilégios, entre eles: acompanhamento familiar, acesso à educação na infância, moradia com uma boa infraestrutura urbana, renda familiar acima de 5 salários mínimos, estudo em tempo integral, cursos extraescolares, entre outros. Ao fazer uma breve análise do vídeo foi possível notar que as pessoas brancas tiveram mais acesso aos privilégios citados. E por fim, as/os alunas/os perceberam que esses privilégios interferem na construção da sua vida econômica e social.

   Seguindo a roda de conversas, a graduanda em saúde argumentou que enquanto menina branca, nunca teve a sua higiene questionada, e muito menos uma atitude que ela tomou serviu como característica para toda a população branca. Após essa afirmação, Moisés solicitou a palavra e argumentou que ele, enquanto menino negro sempre teve a sua higiene questionada, e sempre ouviu de professores e colegas em sala de aula que o odor ruim seria uma característica da raça negra, além disso, ainda mencionou que qualquer atitude inadequada que ele tomasse, sempre era associada a todo povo negro. Para confirmar esses traumas, ele tirou da bolsa algo que ele sempre carrega: desodorante, perfume, sabonete, escova e pasta de dente. E afirmou que constantemente vai ao banheiro, seja numa festa ou em uma reunião, para passar desodorante, perfume e escovar os dentes.

   Dessa forma, pode-se notar que a redução de uma característica de um grupo inteiro se associa a uma característica de uma/um única/o sujeito negra/o, por outro lado, Giovana, branca, nunca passou por essa situação, e de nenhuma forma percebeu que ao se posicionar sobre um assunto, essa opinião fosse entendida como a opinião de todas/os as/os brancas/os.

   Além do racismo que atinge a pessoa negra e reverbera em seu coletivo, o próximo tema da roda de conversa foi o racismo institucional, especificamente da polícia, e para exemplificar esta questão, a graduanda em saúde comentou que a/o branca/o é vista/o como uma/um cidadã/ão e suas características específicas, por exemplo, branca/o do cabelo curto ou branca/o do cabelo comprido, branca/o com camisa amarela e branca/o com camisa azul e etc. Já para a/o negra/o não importa as suas características específicas, pois ele é simplesmente uma/um negra/o.

   O ativista negro solicitou a palavra e citou que houve um assalto no centro da cidade de Porto Seguro, e ele estava em outra parte da cidade, mas de repente foi surpreendido com uma abordagem policial. O policial disse que uma pessoa com as suas características cometeu um assalto, mas quando uma amiga indagou qual era a característica do assaltante, o policial simplesmente disse: “ele era negro”. A partir daí Moisés teve que apresentar a sua carteirinha de estudante da UFSB, a carteira de trabalho, o Registro Geral, e ao lado da amiga conversou com o policial que não poderia ser ele pois no horário do assalto ele estava trabalhando. Depois de algum tempo foi dispensado da abordagem policial.

   Um educando, aproveitou o tema, e comentou que quando estava com alguns amigos, no píer municipal do centro de Porto Seguro dois policiais abordaram os amigos mais escuros e dispensaram os amigos mais claros.

Diante desses relatos, percebe-se que a marca negra quanto mais escura será um alvo para a polícia, o corpo negro torna-se assim um corpo suspeito, um corpo dissonante ao padrão adequado para a sociedade brasileira. Mostra-se que o racismo é violento, excludente e fomenta desigualdade econômica.

   Por fim, Giovana Bernardes, comentou as limitações que sente em fazer alguma explanação sobre o racismo, pois enquanto mulher branca, entendia que aquele espaço não era seu, e que apenas apresentou parte da sua vivência para as/os educandas/os entenderem as experiências de um corpo branco crítico e antirracista nesse espaço. No entanto, deixou claro que não queria falar por ninguém, porque outras pessoas que sofreram racismo poderiam falar com mais propriedade, pessoas em que as suas vivências não são escutadas. Mas conversando com outras/os amigas/os negras/os percebeu que é sim importante ela ocupar esse espaço, para entender que pode ouvir, falar e ocupar esse lugar, pois a branquitude crítica e antirracista precisa reconhecer os seus privilégios. E após as/os convidadas/os fazerem os agradecimentos finais encerrou-se a roda de conversa.

   

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