


AXÉ ODARA 2017

As turmas do 9º ano do Ensino Fundamental II e as turmas do 1º e 2º do Ensino Médio participarão de uma roda de conversa cujo título é “Consciência Negra: o que eu tenho a ver com isso?” Será mediada por Thawan Dias Santana Tannes, discente em Licenciatura Interdisciplinar em Artes pela UFSB/CSC. Essa atividade ocorrerá das 7h30min até às 10h, ou seja, nas 3 primeiras aulas. A roda de conversa terá explanações e debates. Os recursos utilizados serão microfone, caixa amplificadora, notebook e projetor de imagem. Após a roda de conversa espera-se que as/os alunas/os reflitam sobre relações étnico-raciais e desenvolvam ações antirracistas.
Cauim Benfica
Projeto Pedagógico Axé Odara
20 nov 2017.
Consciência Negra: o que eu tenho a ver com isso?
Para o dia 20/11/2017 no turno matutino, participou da roda de conversa, “Consciência Negra: o que eu tenho a ver com isso?”, Thawan Dias Santana Tannes, que nesse período era discente em Licenciatura Interdisciplinar em Artes pela UFSB/CSC, Conselheiro Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Porto Seguro, Secretário Geral do “Instituto Brasil Chama África” e Coordenador de Diversidade Sexual do Diretório Central dos Estudantes da UFSB.
Nesses espaços, ele desenvolvia estudos sobre homofobia, partindo de pichações nos banheiros escolares, subalternizações, letras de funk empoderamento e racismo institucional, a partir de práticas de abordagem policial. Tendo, como artista, idealizado a exposição “Elemento” no ano de 2017, cujo trabalho foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), ainda dedicava tempo à militância do movimento negro e LGBTQI+.
O artista iniciou a roda de conversas fazendo uma breve apresentação. Em seguida, fez-se necessária a observação de que não gostava de momentos em que apenas uma pessoa expõe um argumento enquanto as outras pessoas ficam apenas ouvindo. Disse que gostaria de ouvir as/os alunas/os também e que em qualquer momento as/os alunas/os ou professoras/es poderiam interrompê-lo e fazer perguntas. Indagou as/aos alunas/os, tais como: “Quem se autodeclara negro ou negra?”; “Qual é a importância de se ter um dia da consciência negra?”; “O que vocês têm a ver com isso?”.

Nesse período, Thawan D. S. Tannes era discente em Licenciatura Interdisciplinar em Artes pela UFSB/CSC, Conselheiro Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Porto Seguro, Secretário Geral do “Instituto Brasil Chama África”, Coordenador de Diversidade Sexual do Diretório Central dos Estudantes da UFSB. Nesse espaço desenvolvia estudos sobre homofobia, partindo de pichações nos banheiros escolares, subalternizações, letras de funk empoderamento e racismo institucional, a partir de práticas de abordagem policial. E ainda dedicava tempo à militância do movimento negro e LGBTQI+, tendo, como artista, idealizado a exposição “Elemento” no ano de 2017, cujo trabalho foi reconhecido pela ONU Brasil.

Fonte: Cauim Benfica (2017)
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O projeto é importante para conscientizar e para mostrar a cultura afro, na qual existem tantas belezas. Eu irei participar da ornamentação da sala, culinária e organização do projeto que foi idealizado pelo professor de Geografia e os demais alunos. Vamos mostrar a cultura e a beleza africana que é de suma importância que seja debatido não só aqui, mas em todas as escolas. E assim espero que seja feito bom proveito e que podemos adquirir conhecimento sobre as culturas e os conhecimentos africanos.
Maria Souza
1º B
Notei que as/os alunas/os estavam tímidas/os, mas depois de alguns minutos, após insistir com as perguntas, as/os alunas/os foram se soltando e começaram a aparecer respostas, como: “Eu sou negro”; “Eu sou moreno”; “Eu sou branco, mas não sou racista”; “A gente vive em uma sociedade e por isso precisamos respeitar a todos”; “Eu já sofri racismo”; “Eu já sofri racismo na escola”; “O período da consciência negra é um momento para a gente refletir a importância do respeito a todas as raças”; “É o momento de valorizar a cultura negra”.
Thawan ressaltou a importância das/os educandas/os negras/os refletirem sobre diversas questões do seu cotidiano que podem atrapalhar o seu sucesso na escola e também interferir na sua saúde mental. Esses momentos de reflexão eram também para as/os alunas/os denunciarem o racismo, conversar com as/os mães/pais, familiares, educadoras/es ou amigas/os, buscar pontos de apoio para superar possíveis transtornos emocionais com atitudes antirracistas. Afirmou que as/os alunas/os que não se consideram negras/os precisam ter também uma atitude antirracista, porque a exclusão amplia as desigualdades sociais, e em algum momento essa cultura do ódio pode atingir a qualquer um por outros motivos, como questões sobre gêneros, sexualidade, classe social, religião, região onde mora, ou também indiretamente, através de ataques a parentes ou amigos. Enumerou algumas situações de atos racistas em que estava presente. Disse que quando saia com algumas/alguns amigas/os mais escuras/os que ele, sempre ocorreu do seu amigo mais escuro sofrer atos de racismo, como no dia em que apenas o seu colega negro retinto foi abordado de forma agressiva pela polícia. Nesse caso, o racismo não o atingiu fisicamente, mas sim psicologicamente, por ver seu amigo ser abordado de forma desrespeitosa. Afirmou que em outro momento, quando ele tinha um relacionamento com um parceiro branco, sofreu também o racismo direto, pois percebeu que nos momentos de pagar a conta, o garçom sempre entregava a fatura para o seu companheiro branco.
As/os alunas/os passaram também a fazer alguns relatos sobre situações em que o racismo esteve presente em suas vidas. Um aluno afirmou que certo dia, foi o único do ônibus a ser revistado pela polícia: o detalhe intrigante é que ele era o mais escuro. Uma aluna afirmou que estava sofrendo racismo em casa e na escola. Disse que tinha resolvido cortar o cabelo para passar por transição capilar, no entanto a família e os colegas da escola estavam ridicularizando esse ato, proferindo termos pejorativos e desrespeitosos.
Após uma aluna se expressar, solicitei a palavra e disse que as rodas de conversas sobre consciência negra eram importantes para a comunidade escolar refletir o cotidiano e perceber que o racismo tem diversos meandros que ficam escondidos em outros sentidos, e que nada mais é do que a sua outra face.

Thawan exibiu em slides do trabalho fotográfico “Elemento”, em que registra fotografias dos colegas negros do Diretório Central dos Estudantes da UFSB em posições de abordagens policiais. Tive o receio de que algumas/alguns alunas/os ficassem assustadas/os, pois as pessoas estavam de calça jeans, descalças e sem camisa, mãos levantadas para cima e as pernas abertas, ajoelhados com as mãos para cima, deitados de bruços com o rosto pressionado ao chão e os braços para trás, como se estivessem algemados e sofrendo tortura. Mas para a minha surpresa não vi nenhuma/nenhum aluna/o assustada/o, pelo contrário, muitas/os alunas/os que usaram a palavra na roda de conversas disseram que essa cena é comum nos bairros periféricos de Porto Seguro e ainda ressaltaram que é corriqueiro os casos de assassinatos de jovens negras/os e pobres na periferia.
Jovem negro denuncia racismo da polícia em ensaio fotográfico
No final das contas, me surpreendi com a forma com que as alunas/os falaram, tive a impressão que existe uma naturalização e aceitação da violência, humilhação, tortura e assassinatos. Diante desses comentários de parte das/os alunas/os, lembrei-me do ensaio do filósofo camaronês Achille Mbembe (2016), intitulado Necropolítica. Nesse texto ele faz um passeio pela histórica até a atualidade sobre a política da morte, e ressalta que raça é um aspecto condicionante para a política ocidental desumanizar sujeitas/os, ou seja, criar a impressão de que existem corpos matáveis, naturalizando assim, o extermínio de diversos povos.
Qualquer interpretação da Necropolítica no mundo moderno deve utilizar o colonialismo e a escravidão como marcadores do terror, principalmente no que se refere ao corpo negro que até nos dias atuais há uma aceitação ao seu assassinato. Após discussões, percebi que um professor e um membro da direção ficaram apreensivos com o debate. Como as discussões centrais atingiram o objetivo, encerramos a roda de conversa.
Vale ressaltar que houve diálogos sobre a realidade de Porto Seguro, e o que fiquei surpreso foi com a maturidade do debate por parte das/os alunas/os. No entanto, notei um hiato na roda de conversa que foi não ter disponibilizado textos, ensaios e artigos que versassem sobre relações étnico raciais, pois assim, as/os alunas/os poderiam participar de forma mais teórica, consciente e reflexiva.
Roda de capoeira, maculelê e samba de roda
As turmas do 9º ano do Ensino Fundamental II e as turmas do 1º e 2º do Ensino Médio assistirão uma oficina sobre “Capoeira, Maculelê e Samba de Roda”. Será mediada pela turma do 1º ano A, que apresentará as pesquisas teóricas, e pelo convidado Adaílton dos Santos, pedagogo e capoeirista. Essa atividade ocorrerá das 10h20min até às 12h, ou seja, nas 2 últimas aulas. A oficina terá explanações, debates e movimentos corporais da copoeira, maculelê e samba de roda. Os recursos utilizados serão atabaque, berimbau, baquetas, pandeiro e chocalho. Após a oficina espera-se que as/os alunos compreendam que a copeira é um movimento cultural, artístico, defesa pessoal e religioso.
Cauim Benfica
Projeto Pedagógico Axé Odara
21 nov 2017.

Fonte: Cauim Benfica. 2017



O artigo “Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira” mudou a minha vida. O artigo aborda um tema polêmico e que com certeza não deveria ser visto assim. Ele fala da realidade do que as negras realmente sofrem no dia-a-dia. Por isso esse texto tem o intuito de abrir os olhos da sociedade em relação ao assunto proposto, e assim foi feito comigo. Com a leitura do artigo percebi que as vezes mesmo sem perceber podemos ser racistas.
Roberta Silva
1º A

Para o dia 21/11/2017, houve uma oficina de Capoeira, Maculelê e Samba de Roda, e também outras danças de origem afrodescendente. O “1º ano A” apresentou as pesquisas e realizou demonstrações de atividades culturais afro-brasileiras, a oficina contou também com a participação do pedagogo e capoeirista Adaílton dos Santos, que possui uma longa trajetória em eventos de capoeira pelo Brasil. O “1º ano A” iniciou com um pequeno recorte histórico da capoeira no Brasil e estratégia de resistência ao processo colonial a escravização. Segundo as/os educandas/os, a capoeira consolidou-se nos quilombos, uma arte que é um misto de luta, dança, gingado, ritmo, cantos que rememoram a luta negra e saudações aos orixás, com uso de instrumentos de percussão como o atabaque, pandeiro e o berimbau. O pedagogo e capoeirista Adaílton também ressaltou a longa proibição da capoeira no Brasil e como serviu para negros/as escravizados/as se defenderem da opressão.
Adaílton orientou as/os alunas/os com alguns movimentos, ginga e golpes de capoeira, maculelê e samba de roda. Mas, acredito que se tivéssemos estudado textos, ensaios e artigos sobre capoeira, talvez a percepção das/os educandas/os sobre a capoeira como um instrumento de resistência negra fosse ainda mais significativa, poderia transformar a compreensão das/os alunas/os sobre o protagonismo e a luta pela liberdade negra na história do Brasil




Alunos do “2º ano A” encenando o Egito Antigo
As turmas do 9º ano do Ensino Fundamental II e as turmas do 1º e 2º do Ensino Médio assistirão uma encenação sobre o Egito Antigo planejada pela turma do 2º ano A. Essa atividade ocorrerá das 8h20min às 9h10min, na segunda aula. Os recursos utilizados serão tecido TNT, areia, cartazes, hidrocor, vestimentas que representam as roupas no Egito Antigo, microfone e caixa amplificada. O interesse dessa atividade é que as/os educandas/os conheçam a importância para a nossa sociedade da civilização egípcia, localizada no continente africano.
Cauim Benfica
Projeto Pedagógico Axé Odara
22 nov 2017.

Fonte: Cauim Benfica (2017)
No dia 22/11/2017, ocorreram apresentações de danças e dos estudos que as/os alunas/os realizaram sobre história e cultura afrodescendente e indígena. E para organizar as exposições, cada turma ficou com um tema específico. Nesse dia, as/os alunas/os iniciaram as atividades com as danças que tiveram origem e influências africanas, afro-caribenhas, afro-brasileiras e indígenas, tais como: Kizomba, Kuduro, Carimbó, Lambada e Axé (gênero musical, ou Samba Reggae). As danças dos ritmos Kizomba, Kuduro, Lambada e Carimbó foram mais lúdicas e folclorizadas, o interesse dessa atividade foi entreter as/os educandas/os, pois era um momento festivo na escola. Apesar da felicidade, as/os alunas/os não refletiram sobre a história negra com esses ritmos. Mas de certa forma, essas experiências pedagógicas foram um ponto importante para o início da transgressão, celebrando um ensino que permita as transgressões – um movimento contra as fronteiras e para além delas. É esse movimento que transforma a educação na prática da liberdade.
Essas atividades ocuparam um espaço da educação tradicional engessada por hora/aula, normas, sala de aula, conteúdo e regras. Todavia, a escola não pode ser compreendida como um espaço alienígena, apenas para o desenvolvimento de conhecimentos técnicos, pois a escola é parte da vida, por isso precisamos também vivenciar de forma lúdica o conhecimento.
A atividade do dia seguinte foi planejada pelas/os alunas/os do “2º ano A”, que analisaram o contexto da letra da música de Axé Music (ou Samba Reggae) “Faraó Divindade do Egito”, que já foi interpretada por artistas que são referências musicais na Bahia, tais como: Banda Mel, Olodum, Djalma Oliveira e Margareth Menezes. Para fazer uma explanação do contexto da música “Faraó divindade do Egito” as/os alunas/os do “2º ano A” montaram um cenário e usaram roupas com interesse de representar o Egito Antigo.
Abordaram na música composta por Luciano Gomes a mitologia do Egito e a afirmação de que as/os negras/os no Brasil são descendentes de povos que tem uma longa trajetória histórica de protagonismo na humanidade, rompendo com a ideia racista de que as/os negras/os no Brasil são descendentes de escravas/os. Mas, sim, de povos livres e antigos que promoveram tecnologias nas áreas da matemática, medicina, astronomia, filosofia, anatomia, agropecuária e arquitetura.
No entanto, a invasão contínua de povos exógenos de África, principalmente o colonialismo europeu, invisibilizou e apagou diversas epistemologias das etnias antigas de África. Por outro lado, a música também cita a segregação dos povos negros no Brasil e clama por inclusão desses povos marginalizados que tem uma importância histórica na formação humanidade, ao mesmo tempo em que celebra o pelourinho como um local de união e resistência negra no Brasil.
Outra turma, o “2º ano B”, apresentou críticas ao racismo religioso. E abordou alguns conceitos sobre as religiões de Martriz africana, principalmente o Candomblé, destacando as histórias e culturas de alguns Orixás, como Oxalá, Exu, Iemanjá, Oxum e Ogum. Ressaltaram que além da espiritualidade, os orixás e outras divindades de Matriz africana representam também a história contada por diversos grupos africanos, tais como Oió, Egbá, Egbadô e Ijexá.
Durante apresentações no CECB não houve muita polêmica ou burburinho pelo fato da turma do “2º ano B” fazer explanação sobre seguimentos das Religiões de Matriz Africana. Contudo, nas redes sociais recebi comentários contestando a atividade proposta e reivindicando que o cristianismo estivesse presente e fosse a expressão protagonista no projeto pedagógico. Dessa forma, pude perceber o racismo religioso presente na sociedade brasileira, e assim, entendi porque os terreiros de candomblé e de umbanda são os espaços religiosos que sofrem constantes ataques de vândalos.
História e Cultura dos Orixás


Fonte: Cauim Benfica (2017)
Outra turma, o “2º ano B”, apresentou críticas ao racismo religioso. E abordou alguns conceitos sobre as religiões de Martriz africana, principalmente o Candomblé, destacando as histórias e culturas de alguns Orixás, como Oxalá, Exu, Iemanjá, Oxum e Ogum. Ressaltaram que além da espiritualidade, os orixás e outras divindades de Matriz africana representam também a história contada por diversos grupos africanos, tais como Oió, Egbá, Egbadô e Ijexá.
Durante apresentações no CECB não houve muita polêmica ou burburinho pelo fato da turma do “2º ano B” fazer explanação sobre seguimentos das Religiões de Matriz Africana. Contudo, nas redes sociais recebi comentários contestando a atividade proposta e reivindicando que o cristianismo estivesse presente e fosse a expressão protagonista no projeto pedagógico. Dessa forma, pude perceber o racismo religioso presente na sociedade brasileira, e assim, entendi porque os terreiros de candomblé e de umbanda são os espaços religiosos que sofrem constantes ataques de vândalos.
As turmas do 9º ano do Ensino Fundamental II e as turmas do 1º e 2º do Ensino Médio assistirão uma apresentação do 2º ano B sobre as religiões de matriz africana, principalmente o Candomblé, destacando as histórias e culturas de alguns Orixás, como Oxalá, Exu, Iemanjá, Oxum e Ogum. Essa atividade ocorrerá das 9h10min às 10h, na terceira aula. Os recursos utilizados serão cartolina, hidrocor, tesoura, folhas de ofício com desenhos impressos da internet. Os resultados esperados são que as/os alunas/os conheçam, pelos menos de forma superficial, as religiões de matriz africana e, respeitem a diversidade religiosa.
Cauim Benfica
Projeto Pedagógico Axé Odara
22 nov 2017.
Estudos sobre Abdias Nascimento
Título 6
Fotos: Alunas/os do “9º ano A” apresentando estudos sobre Abdias Nascimento.
Fonte: Cauim Benfica (2017).
Dando continuidade ao “Projeto Pedagógico Axé Odara”, a turma do “9º ano A” apresentou estudos sobre Abdias Nascimento (1989, 2002a, 2002b), alguns ressaltaram conhecer o poeta, político, dramaturgo e homem do teatro. Outros lembram do ensaísta, autor de textos sobre a resistência negra e antirracistas, tingidos de desafio e até de radicalismo naquilo que une aspectos de seu múltiplo fazer: a defesa dos direitos humanos dos filhos da África e a valorização de sua herança cultural. Mas aos 54 anos esse filho de Oxum embarca, em um novo rumo criativo, a pintura, e nele navega os milênios do emergir do povo africano em todo o mundo.
As alunas destacaram que a obra de Abdias Nascimento explora e interpreta simbologias de diversos contextos a partir da matriz primordial do Egito antigo, percorrendo o candomblé, o vodu do Haiti e os ideogramas adinkra da África ocidental. Essas referências mesclam-se à evocação de heróis e princípios da luta libertária na África e na diáspora. O resultado é uma tessitura de cifras e signos que brotam das cosmogonias e das passagens existenciais comuns aos povos afrodescendentes e realçam os valores da harmonia e da unicidade.
Criado em 1944 na liderança de Abdias Nascimento, o Teatro Experimental do Negro (TEN) rompeu a barreira de cor no teatro brasileiro e se tornou um centro de atuação de atores músicos, bailarinos e coreógrafos negros. Com seu projeto Museu de Arte Negra, o TEN incentivou artistas negros e levantou a questão da estética negra na arte brasileira. Por todas essas obras artísticas e ações políticas fica evidente o compromisso de Abdias Nascimento com a luta do povo negro para reconstruir o seu protagonismo histórico, militância em prol dos direitos civis negros e representação negra na cultura brasileira.
O sangue e a esperança
Corre corre o sangue nas veias
Rola rola o grão das areias
Só não corre só não rola a esperança
o negro órfão que só corre e cansa
Cansa do eito corre das correntes
Corre e cansa do bote das serpentes
Só não corre só não cansa de amar
O amor da Mãe-África no além-mar
Além-mar das águas e da alegria
Mar-além do axé nativo que procria
Aqui é o mar-aquém do desamor frio
Aquém-mar do ódio do destino sombrio
Sombrio corre o sangue derramado
No mar-aquém de tanta luta devotado
Mas o sangue continua rubro a ferver
Inspirado nos Orixá que nos faz crescer
Crescer na esperança do aquém e do além
Do continente e da pele de alguém
Lutar é crescer no além e no aquém
Afirmando a liberdade da raça amém
(Rio de Janeiro, 14 de março de 1982.)
Mesa de degustação de culinária Afro-brasileira e Indígena
As turmas do 9º ano do Ensino Fundamental II e as turmas do 1º e 2º do Ensino Médio degustaram alguns alimentos da culinária negra e indígena ofertada pelo 9º ano B. A degustação ocorreu das 11h10min até às 12h, na última aula do turno matutino. Os educandos trouxeram de casa acarajé, abará, cocada, quibebe, quindim, cuscuz de milho e cuscuz de tapioca. Os resultados esperados são que as/os alunos percebam a importância da participação negra e indígena na culinária brasileira.
Cauim Benfica
Projeto Pedagógico Axé Odara
22 nov 2017.

Alunas/os do “9º ano B” apresentando mesa de degustação de culinária afro-brasileira e indígena.
Fonte: Cauim Benfica (2017).

Em seguida, o “9º ano B”, compartilhou com a comunidade escolar uma mesa de degustação de culinária negra e indígena, e também explicou o contexto histórico e cultural de cada alimento, como acarajé, abará, cocada, quibebe, quindim, cuscuz de milho e cuscuz de tapioca.
A atividade culinária não transformou intrinsicamente as/os educandas/os, o compartilhamento dos alimentos se tornou lugar comum, já que esses alimentos fazem parte do dia-dia das/os alunas/os. Apesar da interação entre as/os alunas/os e professoras/es, e do clima festivo, um ponto que me chamou atenção foi a demonstração de racismo religioso em muitos momentos de forma silenciosa e a busca por justificativas para negar o ato em si, pois o único grupo que não trouxe o alimento, e sim uma foto impressa foi o grupo responsável por trazer o acarajé, que para o Candomblé e Umbanda é uma oferenda para Iansã.
O debate sobre o artigo “Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira”, escrito por Lélia Gonzalez, foi muito importante para o meu conhecimento e aprofundamento desse tema. Permitiu-me compreender melhor sobre o racismo e a desigualdade de gênero (sexismo). Mudei minha forma de pensar e me conscientizei muito em relação a alguns ditados populares racistas que falamos sem perceber.
Amanda Silva
1º A