




CATAR FOLHAS
Vozes-Mulheres
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.
Conceição Evaristo, Poemas de recordação e outros movimentos

Colégio Estadual Cristina Batista (CECB)
Local onde se desenvolveu o Projeto Pedagógico Axé Odara
Foto: Cauim Benfica (2020)
Organização Teórica do Projeto Pedagógico Axé Odara
Caminhos para uma educação antirracista - Um debate entre professores sobre a construção de uma educação Antirracista.
ENSINANDO A TRANSGREDIR - BELL HOOKS: O AFROLITERATO - João Raphael Ramos discute o livro de bell hooks em um programa focado em reflexões de autoras e autores negras e negros.
1.Uso a noção de perspectivismo associada a Nietzsche (1998). Está arrolada à ideia do conhecimento que não tem por pretensão enunciar uma única verdade, pois não acredita na verdade absoluta; não implanta o princípio da universalidade; enxerga um alicerce moral nas narrativas tradicionais da metafísica no Ocidente;
2.Trabalho com uma interpretação que parte sempre de um lugar, de um prisma, uma perspectiva;
3.A palavra Odara, remete a uma das faces de Exu. Em ritos e liturgias quando se lhe solicita que atue como “o bondoso”, os/as zeladores/as irão convocá-lo como “Odara”;
4.“Odaraperspectivismo” tem como referência a Afrocentricidade, termo criado pelo filósofo estadunidense, Molefi Kete Asante (2009), e o Baraperspectivismo, termo cunhado pelo filósofo Rodrigo Santos (2014);
5.Afrocentricidade “é um tipo de pensamento, prática e perspectiva que percebe os africanos como sujeitos e agentes de fenômenos atuando sobre sua própria imagem cultural e de acordo com seus próprios interesses humanos” (ASSANTE, 2009, p. 93);
6.Baraperspectivismo utiliza o simbolismo de Exu, rei do corpo, com a experiência cultural que se produz com a diáspora africana” (SANTOS, 2014, p. 6). Dessa forma, possui influências filosóficas das matrizes africanas, indígenas e europeias;
7.Afrocentricidade e Baraperspectivismo são construtos do campo da filosofia;
8.“Odaraperspectivismo” é conceito afrodiaspórico, por mim erigido. Tem a pretensão de colaborar para o enegrecimento da Educação Básica; contribuir para decolonizar os componentes curriculares no Ensino Médio e no Ensino Fundamental; possibilitar um percurso teórico e prático de resistência política e epistemológica à lógica da modernidade/colonialidade; ampliar a percepção de que as formas de poder modernas têm produzido tecnologias de silenciamento.
Neste projeto o que se buscou fazer foi denegrir a sala de aula, qual seja, torná-la negra e enegrecê-la, por meio de uma educação antirracista, um processo de dissolução das modalidades de dominação e subalternização baseadas em critérios etnicorraciais, geográficos, de gênero, na orientação sexual ou exercícios de sexualidade, etc. Portanto, denegrir tem como alvo o abandono das disputas e controles dos bens materiais e imateriais, visando uma cooperação e construção compartilhada dos poderes (NOGUERA, 2012, p. 69).
Os seguintes trabalhos deram suporte ao projeto pedagógico Axé Odara:
Abdias Nascimento:
NASCIMENTO, A. Acerca do Museu de Arte Negra. Em: O Quilombismo. 2.ed. Brasília; Rio de Janeiro: Fundação Cultural Palmares/ OR Editor, 2002b.
Achille Mbembe
MBEMBE, A. Necropolítica. Em: Arte & Ensaios. Revista do ppgav/eba/ufrj. n. 32. dezembro, 2016, p. 123-151.
contribuem para a formação de uma educação decolonial, antirracista, negra e subsidiam o presente estudo.
bell hooks
hooks, b. Alisando o Nosso Cabelo. Revista Gazeta de Cuba – Unión de escritores y Artista de Cuba, janeiro-fevereiro de 2005. Tradução do espanhol: Lia Maria dos Santos.
hooks, b. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013
Catherine Walsh
Eliane Cavalleiro
Enrique Dussel
Frantz Fanon
FANON, F. Os Condenados da Terra. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
Homi K. Bhabha
BHABHA, H. K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.
Lélia Gonzales:
Maldonado Torres
TORRES Maldonado, N. Sobre la colonialidad del ser: contribuições al desarrollo de um concepto. Em: CASTRO-GÓMES, S.; GROSFOGUEL, R. (Orgs.) El giro decolonial. Reflexiones para uma diversidade epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre Editores, 2007. p. 127-167.
Muniz Sodré
SODRÉ, M. A verdade seduzida. Rio de Janeiro: DP&A. 3. Ed. 2005.
SODRÉ. Muniz. Cultura, corpo e afeto. Dança. Salvador, v. 3, n. 1, p. 10-20, jan./jul.2014.